O casamento é um relacionamento complexo onde duas pessoas formadas de modos significativamente diferentes – família, escola, tradições e até mesmo cidades ou países – vão viver juntas até à morte, dividindo alegrias, dificuldades, conquistas e fracassos. O casamento é uma grande oportunidade para, homem e mulher, descobrir mais de si mesmo e do seu cônjuge.
No entanto, muitos relacionamentos entram em falência, precocemente, sem uma verdadeira experiência de crescimento no conhecimento mútuo. Pesquisas sobre as causas da crescente incidência de divórcios têm mostrado que, para além dos motivos de infidelidade, dificuldades financeiras, negligências, dificuldades na criação de filhos ou problemas com a família do cônjuge, a falta de uma boa comunicação com o parceiro ocupa o primeiro lugar. A dificuldade na comunicação tem sido responsável pelo fracasso na solução de problemas nos mais diversos tipos de relacionamentos.
O ser humano é um ser essencialmente relacional, porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. O Deus em quem cremos é trino, havendo perfeita comunhão e comunicação entre Pai, Filho e Espírito. Deus é o maior comunicador do Universo porque Deus é amor e o seu amor é transbordante. Não cabendo em si, o amor de Deus chega até nós, incessantemente.
Se Deus é amor e se comunica, para crescermos em amor com o cônjuge, devemos desenvolver nossa capacidade de comunicação. Amar é comunicar-se bem, é partilhar com gestos, atitudes e palavras tudo de bom com o ser amado.
Em 1Co 14.11 está escrito: “Se eu não entender o significado do que alguém está falando, serei estrangeiro para quem fala, e ele, estrangeiro para mim”. Paulo nos convida a buscar melhor entendimento no falar para exercitarmos o dom maior, o amor. No casamento, quanto mais entendimento da linguagem do outro, maior é a proximidade aos seus significados e o crescimento da intimidade.
Será que nos comunicamos bem? Será que falo para ser entendido? E quanto à disponibilidade para escutar o cônjuge? O amor que sentimos é expresso de modo transbordante?
Para que a comunicação seja eficaz é preciso entender algo simples, mas importante. Entre quem emite e quem recebe uma mensagem pode haver muitos obstáculos causadores de “ruídos” impedindo a mensagem de chegar bem ao seu destinatário. Dentre eles, vale destacar alguns bastante frequentes:
- Opiniões e as atitudes do receptor – a pessoa só consegue captar o que lhe interessa, ou molda a mensagem fazendo-a coincidir com a sua opinião;
- O egocentrismo, posição que impede de assimilar o ponto de vista de quem fala e leva o “ouvinte” a rebater até sem escutar;
- Percepção distorcida e incompleta da outra pessoa, imagem superficial, receios quanto ao aprofundamento;
- Projeção no outro de expectativas e padrões de relacionamento a partir de experiências internas;
- Competição, que comumente não leva ao diálogo, onde ninguém ouve ninguém por disputa de pontos de vista;
- Frustração e mágoa como barreira emocional à escuta – mutismo.
Observa-se que todos os obstáculos citados acima derivam-se de causas internas, egocêntricas, tomando-se o próprio “eu” como referência.
Uma condição essencial para viver bem com o outro é sair de si mesmo e conhecê-lo, buscando compreender como percebe e sente a realidade, colocando-se no seu lugar. A boa comunicação entre o casal tem um importante papel nesse conhecimento, possibilitando uma escuta mais verdadeira do outro. À medida em que os cônjuges se entendem melhor, as diferenças entre homem e mulher, manifestas na forma de ver o mundo, de pensar e de agir, deixam de ser obstáculos e passam a ser aliados. Nota-se que muitos problemas que assolam o casamento podem ser resolvidos no dia a dia. A “guerra dos sexos” perde o sentido. Na verdade, não são as diferenças entre um homem e uma mulher que os separam, mas os juízos de valor que fazem dessas diferenças.
Quando nos tornamos bons escutadores, surge a consciência e a apreciação da grande realidade humana: a de sermos diferentes por sermos ÚNICOS! O relacionamento se enriquece à medida em que os dois podem expressar sua verdadeira individualidade, sem medo de rejeição, preconceitos ou julgamentos preestabelecidos. Essa compreensão abre as portas para o respeito, a consideração e a aceitação da pessoa como ela é, construindo um relacionamento de felizes diferenças!
Saber escutar alguém é uma forma especial de manifestar amor, pois implica atenção e cuidado, compreensão e aceitação. Saber escutar estimula o outro a se comunicar. Quando o casal alcança maior liberdade de expressão de suas vivências e sentimentos, há um ganho em companheirismo e cumplicidade. O relacionamento a dois floresce a cada novo momento em apoio mútuo, com o objetivo de superar as dificuldades, de edificar o outro, de vê-lo crescer e ser feliz.
Fátima Brasil