Nós , a igreja, fomos redimidos pela graça de Deus. Por meio da fé, nós somos salvos (Ef 2.8). Não há mais nada a fazer para encontrarmos o favor de Deus. É presente de Deus, não é por causa de nenhuma obra que realizamos. O Senhor, por sua graça, nos tornou justos diante dele.
Entretanto, durante a história, muitos irmãos e irmãs tiveram dificuldade de relacionar o discípulo de Jesus, justificado, e a prática das boas obras, a prática do serviço.
Por exemplo, na carta que Tiago escreve aos que haviam fugido da perseguição em Jerusalém, ele afirma: “Você tem fé; eu tenho obras. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras”. Parece que já no 1º século havia dúvidas quanto à dinâmica da fé e do serviço.
O ponto é: não alcançamos a justificação ao praticarmos boas obras. Os que foram justificados praticam as boas obras. Aqueles que foram justificados se dão ao serviço.
Por isso, nós, como comunidade de discípulos, somos lugar de serviço. Deus deseja que entre nós haja a dinâmica do serviço. Que sejamos, como igreja, lugar de serviço. Para nos auxiliar na compreensão do serviço, duas perguntas.
1a pergunta: A quem nós servimos?
A resposta parece óbvia. Nós servimos a Deus. Contudo, o serviço a Deus acontece no serviço ao próximo. Não há outro caminho para servir a Deus se não servindo quem está próximo de nós, porque, em primeiro lugar, Deus é plenamente satisfeito em si. Ele não necessita de nada que poderíamos oferecer, servir a Ele. O nosso serviço não é, literalmente, a Deus porque Ele não tem nenhuma necessidade a ser suprida.
Em segundo lugar, porque o próprio Jesus disse que seria assim. Em Mateus 25.31-46, ao dizer sobre o julgamento das nações, Jesus afirma que o Rei se dirigirá às nações e dirá que houve um tempo em que ele, o Rei, teve fome, teve sede, foi estrangeiro, esteve preso e enfermo e que alguns o serviram. Alguns deram de comer, de beber, serviram, foram visitá-lo. Enquanto outros não. A questão que incomoda aqueles a quem o Rei se dirige é: “Quando foi que vimos o senhor assim?”. Jesus, afirma que o Rei dirá que quando viram o próximo assim, viram o Rei. O Rei diz que o que eles fizeram ou deixaram de fazer a algum dos seus menores irmãos, deixaram de fazer ou fizeram ao próprio Rei. A nossa prática de serviço ou nossa negligência tem relação com o Senhor, com o Rei. Servimos a Deus servindo os seres humanos que estão ao nosso alcance.
Ao falarmos de serviço, não se trata exclusivamente de salvar a alma do ser humano que está próximo de nós. Isso é importante e faz parte do nosso horizonte, da nossa atuação enquanto discípulos de Jesus. Mas só é possível “salvar a alma” de alguém se houver alguém diante de nós.
O serviço passa por cuidar do ser humano em suas necessidades aqui. Porque é aqui, neste corpo, que existe a possibilidade de experimentar Deus. É no corpo. Se o corpo morrer e desaparecer, morre a possibilidade de conversão, de comunhão, etc.
A igreja de Jesus é local de serviço integral, pois:
- nós somos discípulos de Jesus e servimos a Deus Pai;
- à semelhança de Jesus, não viemos para ser servidos, mas para servir;
- o serviço a Deus só é possível servindo os que estão próximos de nós.
2a pergunta: Quem completa a obra do nosso serviço?
O nosso serviço é reflexo do amor de Deus derramado em nós. O nosso serviço é parte do nosso processo de imitação de Jesus que veio para servir e não para ser servido.
Nossa função é o privilégio de servir. O próprio Deus há de terminar, de concluir a obra, o serviço. É responsabilidade da Trindade, do nosso Deus, concluir a obra.
No relato dos Atos dos Apóstolos, conta-se da igreja primitiva que servia. Igreja que se reunia em comunhão, para se alimentarem juntos, igreja onde não havia nenhum necessitado, que proclamava o evangelho. Quer prática de serviço mais radical do que essa? Serviam ao ponto de não haver necessitados no meio deles.
O resultado era que aquela igreja, local de serviço, contava com a simpatia do povo! E “o Senhor ia acrescentando, todos os dias, os que iam sendo salvos”. Aquela igreja, sendo local de serviço, era o local de reunião daqueles que o Senhor tornava justos, justificados.
Nós devemos servir sem a preocupação (não sem a intenção) de converter alguém. A igreja de Jesus é local de serviço integral, pois, assim, podemos ser meio para que Deus alcance e justifique outros que serão acrescentados à nossa comunhão.
Que o Senhor, por sua Graça, nos ajude a ser uma igreja que serve.
André Ribeiro de Oliveira